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terça-feira, 24 de dezembro de 2013

É Mais do que Ouvir Falar...

Eu realmente não sei bem o que escrever neste que é o meu último texto este ano. O final de 2013 chegou com muitas coisas acontecendo e que trazem um misto de ansiedade, preocupação e expectativa. Pouco mais de dez anos e quatro meses atrás eu chegava em Pelotas/RS. Foi a cidade onde morei por mais tempo em toda a minha vida. Agora, chegou novamente o momento de partir. Já foram tantas mudanças, tantas casas que nem sei mais onde estão minhas raízes. Ao mesmo tempo, acompanho de longe, angustiado, a situação das enchentes no meu estado de origem. Minha mãe, já idosa e que mora sozinha, foi uma das pessoas que teve que ser resgatada às pressas no meio da noite devido às fortes cheias e a rapidez com que a água subiu. Apesar de perdas substanciais e do desafio de encontrar forças para trabalhar e se reerguer, ela está bem.
São Gabriel da Palha-ES - Bairro Cachoeira da Onça - 19/12/2013

Apesar de minha infância e juventude muito pobre, sem qualquer chance de algo semelhante ao que vemos em termos de ceias, presentes, festas e tudo o que o consumismo deste mundo costuma relacionar com o Natal, eu sempre gostei deste clima natalino. Pela primeira vez, neste ano, as coisas são diferentes. O clima natalino e a expectativa de férias, de rever familiares, de mudar de ares, tudo se foi. As férias em janeiro serão de mão na massa e ajuda no que for necessário lá no Estado do Espírito Santo. A angústia é por não poder ir logo para lá! Como este texto é redigido na véspera do Natal de 2013, pode ser que quando finalmente puder estar lá, no dia 07 de janeiro, as coisas estejam melhores! A esperança é esta!

A sensação, depois da noite muito ruim de uma semana atrás, aquela em que minha mãe foi surpreendida com a casa alagada, é que as poucas horas que dormi me fizeram entrar num estado do qual não acordei mais! Uma longa noite, pesada, difícil, que não permite repouso, não há descanso. O ar é pesado e a respiração difícil! A maioria das coisas que algumas pessoas tentam dizer soa apenas como um consolo barato! Em meio à dor de milhares de pessoas, a alegria consiste em ver que ainda há muita solidariedade. Por mais paradoxal e estranho que possa parecer, são estes momentos difíceis que são capazes de revelar a fé, a força e a capacidade de mobilização em favor do próximo. Apenas aqueles que sempre questionaram cinicamente a Deus é que se aproveitam destes momentos para fazê-lo ainda mais intensamente. Aquele que crê, porém, vê ainda mais presente a bondosa mão de Deus a carregar, consolar, chorar junto. Estes compreendem a Jó, que em meio a toda perda e toda dor exclamou: "Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei. O Senhor o deu, o Senhor o levou; louvado seja o nome do Senhor" (Jó 1.21).
 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O Natal e os Natais

Está chegando mais uma semana de Natal. As propagandas se intensificam. O apelo das lojas e do comércio em geral convida ao consumismo. As luzes e o vermelho ditam o tom. Por todos os lados que se vai é possível escutar uma canção natalina. Na televisão os filmes e desenhos animados também enfocam este período festivo. Muitos serão, mais uma vez, os fogos, a comilança, os abraços (falsos e verdadeiros), os desejos de paz, felicidade e prosperidade... “Então é Natal...” A impressão é realmente de que vivemos um tempo cíclico: “o ano termina, e nasce outra vez”.

Nesta concepção de que estamos numa espécie de roda do tempo, o final do ano é aguardado com sofreguidão. É o fim do período de espera e sofrimento de um ano inteiro de trabalho. “Boas festas!”, desejamos. Logo ali mais um período de férias onde, quem sabe, seja possível viver de verdade, nem que seja por pouco tempo. Afinal, além do ano, também o período do Natal, as festas e as férias terminam. E, começa tudo de novo...!

Ora, se o Natal for apenas isso, então, não há mesmo qualquer motivo para uma real esperança. Alguns vão se entregar ao que chamam de prazeres do momento, pois não há nada mais a esperar. “Viva cada dia como se fosse o último”, dizem. Outros revelarão que suportam esta realidade na esperança de que algum dia viverão num mundo melhor (algum plano superior com as almas em êxtase, por exemplo). De qualquer modo, é assim mesmo, a roda gira, gira, e não há como escapar dela. Será mesmo? Tudo começa outra vez ou, tão somente continua!?

O Natal é celebração. O evento histórico que deu origem a esta celebração, este não se repete mais. O ano termina, e, aquele que começa, é outro. Na fé cristã há uma esperança que não se resume a uma compreensão cíclica do tempo. Se prestarmos atenção na realidade veremos que existem evidências concretas de que não funciona assim. A cada Natal você estará mais velho. As coisas mudam. A cada novo ano nós teremos aprendido mais. Sim, a história caminha para um propósito. O modo como vivemos cada dia é importante para o dia seguinte. O problema não está em envelhecer. Não está na limitação física. O desafio não está em superar o corpo ou este mundo físico num ciclo que finalmente nos catapultará para uma realidade desencarnada. O que você faz aqui e agora importa, sim. E, tudo o que fizermos repercutirá na eternidade. O ano termina, sim. Mas, não nasce outra vez. Cada ano é um novo ano. Cada dia, um novo dia. O que recebemos a cada alvorecer é uma nova oportunidade para compreendermos o quanto todo este mundo está impregnado de graça e amor. Cada novo dia é uma dádiva diante da qual recebemos a oportunidade de desfrutar com gratidão.

Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós” 
(João 1:14)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Entre a Quantidade e a Qualidade

As estatísticas dizem que o número de evangélicos no Brasil cresceu e continua crescendo. Existem outros grupos em crescimento. No entanto, a crítica a respeito do crescimento dos que se declaram evangélicos é que este crescimento não vem se traduzindo em transformação cultural expressiva no país. Uma crítica que tem fundamento. Desde quando a religião passou a ser encarada como mera questão privada e subjetiva dos seres humanos, caiu-se num dualismo que faz com que alguns teólogos hoje lutem novamente por aquilo que chamam de teologia pública. Sem cair no erro de conceber a religião como meramente uma questão moral ou ética, é fato que cada confessionalidade acaba, sim, gerando certo tipo de cultura que também se manifesta no campo ético. Nas palavras de Jesus, a árvore é reconhecida pelos seus frutos (Mateus 7. 20).

 Existem muitos bons textos em artigos, livros, dissertações e teses a respeito do crescimento das religiões e, especificamente sobre toda essa questão envolvendo os evangélicos. São muitos os meandros, sutilezas, detalhes e fatos a serem levados em consideração para uma análise que permita chegar numa agenda propositiva. Muitos daqueles que se declaram cristãos e/ou evangélicos tem, de fato, contribuído para descaracterizar aquilo que Jesus Cristo ensinou e fez. Não faltam os aproveitadores. O cristianismo é bem realista sobre a condição humana. Nunca acreditamos que a igreja representasse uma sociedade alternativa perfeita. O que não podemos tolerar é que isso se transforme numa desculpa para insistirmos no erro e até para justificar nossas falcatruas. Isso não! Jamais encontraremos Jesus, os profetas, os apóstolos e homens e mulheres sérios na história da igreja compactuando com agendas corporativistas, individualistas, corruptas, mercenárias e opressoras!

O desafio para os cristãos, ampla maioria na sociedade brasileira, é dar um testemunho digno do Evangelho de Jesus Cristo. Somados, católicos e evangélicos são quase 90% neste país. Ouso, humildemente, apontar dois grandes desafios: a unidade e o ensino. Primeiramente, se cremos e servimos o mesmo Deus, não deveríamos agir como se fôssemos concorrentes. Essa linguagem não cabe na Igreja. E, segundo, se a fé não é mera questão privada e subjetiva, os fiéis precisam conhecer as implicações daquilo que confessam e abraçam como seu credo. Pois se a fé fosse uma questão intimista e pessoal, também não faria diferença se dizer desta ou daquela religião. Importa, como alguns até já dizem, “ter fé!”. Ora, se existem diferentes confessionalidades, sabemos que não é tão simples. Quais são as implicações de se declarar cristão?

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Faz Sentido!

Você também já deve ter ouvido especialistas se referindo à fase dos porquês no desenvolvimento das crianças. Quem convive com crianças, especialmente pais e professores, já notou isso mesmo sem a ajuda dos especialistas. Faz parte da experiência humana querer compreender este mundo que se revela à nossa volta. Nesta busca todos nós precisamos encontrar algum sentido para as coisas. Embora alguns digam que as perguntas revelam a curiosidade das crianças que querem saber como as coisas acontecem, na realidade, é mais do que mera curiosidade. Organizar o mundo à nossa volta de modo a compreendê-lo dentro de uma perspectiva que dê algum sentido para todas as coisas é algo inerente ao ser humano. Ninguém consegue viver numa realidade totalmente caótica. Assim como procuramos manter a nossa casa, o nosso ambiente de trabalho e a nossa mesa minimamente organizados, também necessitamos nos organizar mentalmente.

Embora possamos conviver com a dúvida e suportemos o fato de não termos as respostas para tudo, vivemos o tempo todo encaixando o novo dentro de um escopo mais amplo de modo que haja alguma harmonia em nossa visão de mundo. É assim que, muitas vezes, aceitamos uma resposta e convivemos com ela até que algo que demonstre fazer mais sentido apareça. Pode acontecer de, em algum momento, a pessoa se dar conta de algo tão fundamental que isso implique em toda uma revisão de vida. É como se não bastasse apenas encontrar um espaço na casa para um novo quadro. A peça é tão rara e valiosa que exige toda uma reforma no ambiente. Perceber como estas coisas acontecem é fator determinante na busca por autoconhecimento e sentido existencial. Além de estarmos abertos a novos aprendizados, o fato é que estamos sempre arranjando as coisas de modo que o mundo à nossa volta faça algum sentido.

Portanto, se no dia a dia das crianças se percebe esta fase mais evidente das perguntas, todos nós passamos a vida em busca de respostas. A maneira como respondemos as grandes questões da vida vai determinar fortemente a maneira como viveremos. Pois não se trata apenas de uma questão teórica. Vivemos como pensamos. Nossos gestos, atitudes e reações, refletem de alguma forma, as nossas crenças a respeito de como este mundo funciona. Estas respostas são mais óbvias a respeito de questões relacionadas ao mundo físico. Todos, em condições normais, respondemos da mesma maneira à lei da gravidade. Não é assim, porém, quando se trata das questões mais subjetivas. Aqui se explica, por exemplo, a existência das diferentes ideologias e religiões no mundo. A sociedade, a cultura e a realidade que vemos à nossa volta é produto do esforço de pessoas que estão procurando organizar as coisas de acordo com as respostas que elas estão enxergando para sua busca de sentido.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Mais Médicos, Menos Cura

O termo evangélico está desgastado. O exemplo de tantas pessoas que se declaram evangélicas não é dos melhores. Não que os cristãos, de modo geral, tenham se afastado das práticas do amor, da caridade, da oração, da comunhão e da celebração comunitária. Mas, nas últimas décadas o Brasil testemunhou um vertiginoso crescimento de denominações que se declaram cristãs sem que sua ética reflita a tradição cristã. Líderes se autoproclamam pastores sem nenhuma formação especial, templos se tornaram cada vez maiores, os membros que antes formavam uma comunidade foram substituídos por frequentadores que, como clientes, buscam o melhor produto pelo menor preço. Mercenários da fé se espalharam pelo país atrás de uma prosperidade que gera cada vez mais pessoas desiludidas. A ganância e a cobiça fazem com que estratégias agressivas sejam empreendidas para saciar a voracidade dos “bispos”, “apóstolos” e “pastores” mediáticos.

 A corrupção vista na esfera política e nas organizações privadas, também está presente na igreja. Onde há pessoas, ali está o potencial para desvirtuar tudo. Cristãos familiarizados com a Bíblia e seus ensinamentos obviamente não se surpreendem. O verdadeiro cristianismo é realista quanto à natureza humana. A perfeição que muitos exigem daqueles que professam o cristianismo não existe. Como o próprio Jesus disse “não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Mateus 9.12). E, neste sentido, doentes somos todos nós, crentes e não crentes, frequentadores ou não de uma comunidade cristã, “pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Romanos 3.23).

As novas igrejas não sabem mais tratar estes “doentes”. Elas não são os “hospitais” que as pessoas necessitam. Imagine que você precise de um médico. E, em vez de ele fazer um diagnóstico preciso, te examinando com cuidado e paciência, escutando seus sintomas, simplesmente dissesse que você deve tomar este ou aquele remédio! E, pior, aquela pessoa vestida de branco sequer é um médico de verdade. Simplesmente ele resolveu que era e montou o seu consultório. Ele é também dono da farmácia e do hospital. Este é o seu negócio. Como negócio, ele quer lucrar. Logo, seu foco não será mais a cura dos pacientes, a qualidade de vida de quem o procura. Tudo o que ele quer é que as consultas sejam pagas, os remédios de sua farmácia sejam vendidos e os leitos de seu hospital particular sejam ocupados.

Restaria alguma esperança para alguém que procurasse um “médico” assim? Os “crentes” das pseudo igrejas de nossos dias são perfeitamente capazes de agirem como “sacerdotes” mercenários ou, no dia a dia, em sua profissão, como médicos, advogados, políticos, engenheiros, comerciantes, empresários, etc sem nenhuma preocupação além daquilo que sua doença lhes permite enxergar como sendo normal! Ninguém mais os confronta com a cura. Igrejas socialmente irrelevantes produzem mais do mesmo!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ou Tudo ou Nada?

A grande crise moral em que os brasileiros estão atolados deixa todo mundo confuso. Sem referenciais, os meios de comunicação tornaram-se para a geração pós-moderna a fonte de versões. Sim, versões. Não existem mais fatos. Cada um é livre para acreditar naquilo que bem entender. E, conforme as preferências ideológicas prévias, cada um, obviamente, escolherá dar crédito àqueles veículos que disserem coisas agradáveis aos ouvidos. Se reforçar aquilo que eu já estou pré-disposto a acreditar, é de confiança, merece respeito. Se contrariar meus interesses, então, eu encontro um rótulo qualquer para desqualificar as fontes. E, assim, vamos empobrecendo, nos limitando, reduzidos ao nosso mundinho.

Claro, não é simples, pois como verificar diretamente os fatos? Dependemos dos meios. Resta, ao que parece, escolher em quem vamos acreditar. E, convenhamos, voltamos à estaca zero. Afinal, a nossa tendência é acreditar naqueles que compartilham de nossas preferências. E, assim, subdividimo-nos em grupelhos, pequenos rebanhos à mercê daqueles que nos conduzem. Logo, cada segmento terá criado também o seu próprio código de ética. Se o outro faz é errado, mas, se o beneficiado sou eu, ou o meu grupo, então, está tudo certo.

A maior demonstração da crise em que nos encontramos vem sendo refletido na mídia com o caso que se tornou famoso como o “Escândalo do Mensalão”. Uma verdadeira guerra de notícias e informações vem sendo travada. E, consciente de ter feito também as minhas próprias escolhas, ouso dizer que algumas coisas deveriam incomodar quem ainda se preocupa com os rumos deste país. Por exemplo, a maneira como muitos tentam justificar uma possível impunidade dos mensaleiros presos pelo fato de outros corruptos estarem soltos. Ora, querem dizer, então, que ou se prende todos os corruptos ou, na impossibilidade disso, o correto seria deixar todos soltos? É isso mesmo??? Pensei que eu deveria celebrar por, finalmente, ver neste país políticos poderosos sendo legalmente punidos pelos seus crimes! Como já dizia o sábio:  "A justiça engrandece a nação, mas o pecado é uma vergonha para qualquer povo” (Provérbios 14.34).

Infelizmente, no país do jeitinho, parece normal justificar um erro com outro erro. Afinal, já que não se pode ser perfeito, vamos desmoralizar com tudo de uma vez! Não. Não é assim. Não deveria, ao menos, ser assim. A prisão de alguns políticos corruptos mostra que não é assim. Há esperança! Muitos já não acreditam. Mas, os últimos acontecimentos mostram que a corrupção não é algo normal que deve ser tolerado. Os fins não justificam os meios. Embora saibamos também que nem sempre o que é legal é justo! Celebro, no entanto, por enquanto, que finalmente o Brasil começa a ser também um país de “políticos presos”!

Leia Também:
Sem Corações Transformados Não Haverá Nação Transformada
O Brasil Em Confusão
O que a Bíblia Diz Sobre Honestidade
Eu Também Sou Corrupto

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Os Últimos Acontecimentos

Quem elege os grandes temas sobre os quais você deveria ler, discutir e se preocupar? Quais são os temas principais dos diálogos com teus colegas de trabalho? Sobre o que vocês costumam conversar durante as refeições em família? Poucos dias após a morte de Jesus Cristo, dois homens seguiam caminho para o povoado de Emaús. A conversa rolava meio pesada quando, de repente, alguém se aproximou e começou a caminhar com eles. Logo o estranho perguntou: “Sobre o que vocês estão discutindo enquanto caminham?” A resposta indica um espanto comum: “Você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?” (Lucas 24.17-18).

Na chamada era da informação as pessoas se esforçam para estarem sempre atualizadas sobre os acontecimentos. Jornal, televisão, internet, rádio, tudo ajuda a manter as pessoas bem informadas sobre os fatos. Desde o próximo capítulo da novela até as maiores tragédias que acabam de acontecer do outro lado do mundo, tudo é notícia. Se houve um tempo em que as pessoas ficavam sabendo das coisas graças ao vizinho ou por um viajante que trazia a informação de longe, hoje, cada um pode escolher os meios e, consequentemente, a notícia. E, mais que isso, a versão da notícia! Logo, cada um também escolhe em qual versão deseja acreditar.

 Muitas de nossas escolhas são feitas a partir de pessoas em quem confiamos. Por melhor que seja a índole de alguém, levará um tempo até que ela seja de confiança para quem ainda não a conhece. Nossas escolhas, assim, não são meramente pelas versões da realidade que são apresentadas todos os dias. Nem mesmo os argumentos, os fatos, as evidências são, muitas vezes, o suficiente. Depende de quem está contando a história. E, isso explica muita coisa. Por melhor que seja a notícia que você tem para transmitir, pode ser que ninguém te ouça simplesmente por isso!

Na conversa que se estabeleceu entre aqueles dois amigos na jornada para Emaús e o estranho que se juntou a eles, evidências foram apresentadas. Falaram sobre história, tradição, religião, passado, presente e futuro. Um relacionamento foi sendo construído. Ao chegarem ao destino, os dois homens perceberam que o estranho ainda seguiria mais um trecho. Convidaram-no para passar a noite e seguir com mais tranquilidade no dia seguinte. Como é comum à hospitalidade, convidaram para uma refeição, algo muito bem vindo após uma longa jornada. Quando o estranho, já não tão estranho, “estava à mesa com eles, tomou o pão, deu graças, partiu-o e o deu a eles. Então os olhos deles foram abertos e o reconheceram” (Lucas 24.30-31). Eis que a boa notícia se fez carne e habitou entre eles. Mais do que versões dos últimos acontecimentos, a realidade se manifestara!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Imitem a Cristo!

Se vocês receberam algo bom por seguir a Cristo; se o amor dele fez alguma diferença na vida de vocês; se estar numa comunidade do Espírito significa algo para vocês; se vocês tem um coração; se vocês se importam uns com os outros – façam-me um favor: concordem um com o outro, amem um ao outro, sejam amigos de verdade. Não joguem sujo; não bajulem ninguém só para conseguir o que desejam. Ponham o interesse próprio de lado e ajudem aos outros em sua jornada. Não fiquem obcecados em tirar vantagem. Esqueçam-se de vocês o suficiente para estender a mão e ajudar.

Tentem pensar como Cristo Jesus pensava. Mesmo em condição de igualdade com Deus, Jesus nunca pensou em tirar proveito dessa condição, de modo algum. Quando sua hora chegou, ele deixou de lado os privilégios da divindade e assumiu a condição de escravo, tornando-se humano! E, depois, permaneceu humano. Foi sua hora de humilhação. Ele não exigiu privilégios especiais, mas viveu uma vida abnegada e obediente, tendo também uma morte abnegada e obediente – e da pior forma: a crucificação.

Por causa dessa obediência, Deus o exaltou e honrou muito acima e além de todos, para que todos os seres criados, no céu e na terra – até aqueles há muito mortos e enterrados -, se curvem em adoração na presença de Jesus Cristo e proclamem, por meio do louvor, que ele é o Senhor de todos, para a gloriosa honra de Deus Pai.

Façam tudo pronta e alegremente – nada de brigas ou apelações! Apresentem-se imaculados para o mundo, como um sopro de ar fresco nesta sociedade poluída. Deem às pessoas um vislumbre de uma vida boa e do Deus vivo. Levem a Mensagem portadora de luz noite adentro.

(Texto de Filipenses 2. 1-11 e 14-16 – A Mensagem: Bíblia em mensagem contemporânea, de Eugene Peterson).

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Posts Mais Lidos...

Desde maio de 2007, quando iniciamos este blog, até hoje, foram milhares de visitas recebidas. São mais de 430 posts. E, você sabe quais são os posts mais populares? Segue abaixo o quadro estatístico (Clique na imagem para ampliar):

terça-feira, 29 de outubro de 2013

O Brasil Em Confusão

O mês de junho de 2013 mostrou um Brasil em ebulição. Havia toda uma expectativa sobre os rumos que o país estaria tomando. Afinal, parecia que o gigante adormecido finalmente estava acordando. Os meses foram se passando. E, se aquela foi a mobilização que mais colocou pessoas nas ruas em toda a história do Brasil, o mesmo não é verdade quanto aos objetivos alcançados. O governo se mobilizou com mais promessas, as manifestações continuaram, embora menores, e, o foco passou das reivindicações para a mais pura selvageria. O que mais temos visto ultimamente é um bando de desordeiros nas ruas, mascarados, dispostos apenas a depredar e agredir. Embora muitos saiam ainda em defesa de tais grupos de delinquentes, a verdade é que nada de concreto e positivo pode-se esperar de tais atos de vandalismo. Diante de tantas justificativas para a barbárie, lembro-me o quanto realmente o caminho de Jesus que o levou à cruz foi uma opção aparentemente derrotista.

Em meio às discussões acaloradas que se travam a respeito de tudo o que acontece no país, falar em oferecer a outra face, amar o inimigo, perdoar a quem lhe ofendeu é quase pedir para ser agredido também. Mas, uma coisa é lutar pela justiça, outra, bem diferente, é querer fazer justiça de forma inconsequente com as próprias mãos. Em junho vimos cartazes nas mãos de jovens que diziam terem saído do Facebook para lutar de verdade. Um embuste. A crise maior do Brasil não é do Brasil. Não é uma crise política. Tampouco se trata de uma crise na educação. Vivemos uma crise moral. E, ela não é do Brasil, um ente impessoal, etéreo, subjetivo, mas, é do brasileiro. O que precisamos mesmo é de arrependimento e transformação pessoal. Pessoas transformadas é que poderão construir um país, reformando as instituições precárias e viciadas. Enquanto enxergarmos nos cargos públicos apenas um trampolim para alcançar ambições pessoais, não haverá esperança de algo muito melhor pela frente.

É sempre muito fácil fazer análises dos outros. É cômodo apresentar o diagnóstico a respeito dos problemas quando a origem de tudo pode ser apontado “lá fora”. Vivemos uma verdadeira cultura da vitimização. Ninguém mais é responsável por nada. Tudo é culpa de alguém outro. De Deus ao diabo ninguém escapa. Se a culpa não é do sistema, então, deve ser do chefe. Os políticos são corruptos, os outros que não sabem votar é que os elegeram. A igreja, os Estados Unidos da América, o Ocidente cristão, o homem branco, qualquer coisa, menos eu. Sou apenas uma pobre vítima tentando sobreviver no meio de toda esta confusão. Ninguém mais acha que pode ser responsabilizado por alguma coisa!

Lembrei-me de Paulo, o apóstolo, quando escreveu algumas palavras a um jovem líder de sua época: “Esta afirmação é fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o pior” (1 Timóteo 1:15).

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Sem Corações Transformados Não Haverá Nação Transformada

Quando no dia 31 de outubro de 1517 o monge Martim Lutero pregou 95 teses na porta da Catedral de Wittenberg, na Alemanha, a situação religiosa era bastante desfavorável ao povo. Uma igreja que concentrava o poder e a informação impedia o acesso das pessoas de modo que havia muita insatisfação. Relíquias eram literalmente vendidas pelos líderes religiosos. A cada dia surgiam novos badulaques que eram oferecidos às pessoas em forma de amuletos que prometiam a benção de Deus. Desde pedaços da cruz de Cristo até ossos do Apóstolo Pedro, tudo servia aos interesses de clérigos inescrupulosos que estavam longe das reais necessidades do povo. Muito do dinheiro arrecadado com as indulgências serviria para a construção de um grande templo. Considerável parte do clero estava totalmente corrompida.

O mais impressionante é que muitas coisas não mudaram depois destes quinhentos anos. É claro que muito se aprendeu, as instituições mudaram, os tempos são outros. Mas, assim como na história está registrado, a maldade humana não tem cor, partido, ideologia ou religião. Simplesmente dizer que “a religião mata” ou que “o capitalismo é o mal do Ocidente” é incorrer num equívoco que apenas favorece a violência e a intolerância. Quando Lutero compreendeu que “o justo viverá por fé” (Romanos 1. 17), ele já sabia também que “não há nenhum justo, nem um sequer” (Romanos 3. 10). Com isso estamos dizendo que o mal não está no outro apenas ou, numa força impessoal, mas, em mim mesmo.

 Enquanto não compreendermos que somos todos falhos, limitados, sujeitos ao erro, dados ao orgulho, à ganância, à cobiça, enfim, pecadores, será difícil uma abertura sincera e humilde capaz de gerar a mudança tanto almejada. A revolução que muitos defendem ignora que o revolucionário não é melhor que aqueles a quem procura destruir. A história não nos deixa mentir. Seja no âmbito político, econômico ou religioso, segue-se uma sucessão de erros e acertos. Também as igrejas que surgiram com a Reforma no século dezesseis, não tardaram em demonstrar que as instituições que criamos apenas refletem aquilo que está em nosso coração. As mazelas, infelizmente, não são privilégio apenas desta ou daquela religião (Romanos 3. 23).

Uma lição que tiramos da Reforma Protestante é que Deus continua fiel aos seus propósitos. Ele está sempre pronto a auxiliar homens e mulheres que humildemente ousam submeter-se aos seus desígnios. A revolução protestante questionou o status quo da época, mas, isso foi fruto da contestação de um monge que lutava primeiro contra si mesmo! E, Lutero não foi o único, graças a Deus!

Mais sobre a Reforma Protestante neste blog:
A Porta de Wittenberg
Graça Reformadora
Sempre em Reforma
Réplicas...
Sacerdócio Geral

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Uma Voz Que Chama

Se a palavra vocação significa, originalmente, um chamado, a pergunta lógica que faço é: quem chama? E, se vocação está ligado ao que fazemos, poderíamos perguntar ainda para quê sou chamado. Pois o chamado pressupõe, além de uma voz que chama, também uma missão. Compreendendo o meu envolvimento com a realidade como algo que possui algum significado, somente a fé num Deus que chama explica este significado. Posso fazer por fazer, realizar para ganhar dinheiro, elogios, reconhecimento pessoal. Mas, será que não existe algo maior? De maneira bem geral, o relato da criação, em Gênesis, fornece pistas sobre a missão humana. Deus, ao criar os seres humanos, confia-nos a responsabilidade de cuidar e cultivar esta boa criação.

Na teologia reconhecemos estas atribuições humanas como o mandato cultural de Deus. Dentre os verbos que denotam ação, uma responsabilidade confiada às criaturas racionais, nós encontramos: dominar, subjugar, sujeitar, multiplicar, nomear, cuidar e cultivar. Percebemos, portanto, o Deus criador chamando a todos nós para participarmos da criação, desenvolvendo todo o potencial deste mundo. Importante destacar que ao final do primeiro capítulo de Gênesis, Deus faz uma avaliação de todo o resultado de seu trabalho criativo: “Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (Gênesis 1:31). Logo, também as atribuições humanas e o fato de que as pessoas deveriam se envolver estava avaliado como algo bom.

A pergunta seguinte que precisamos fazer é: o trabalho que realizamos pode ser avaliado da mesma forma? O fruto de nosso envolvimento com a realidade produz algo bom? Se eu compreendo que toda a minha vida e aquilo que eu faço está conectado com algo maior, a perspectiva muda. Estou contribuindo com algo superior. Atendo ao chamado de Deus. Trabalhar não é pecado. Tampouco é um castigo que recebemos por sermos pecadores. Trabalhar é uma característica intrínseca ao ser humano. Ninguém conseguiria viver o tempo todo no ócio, sem produzir nada. Sentimos falta de nos ocuparmos com algo.

Se Deus é quem me chama e, se ele me chama para algo significativo, a um envolvimento responsável, que tipo de resposta eu estou manifestando? Pense na tua profissão, no teu trabalho... Você consegue enxergar aquilo que você faz como uma contribuição maior para a humanidade? Ou, estamos saindo da cama todos os dias apenas para cumprir uma obrigação enfadonha em troca do salário ao final do mês?

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Trabalho e Vocação

Você já consegue ver a sexta-feira daí? Basta chegar a segunda-feira que muitas pessoas já começam a esperar ansiosamente pela sexta-feira. Quem nunca viu expressões, imagens e desabafos neste sentido? Parece que a vida acontece mesmo nos finais de semana. Os outros dias precisam ser suportados para que possamos desfrutar de algumas horas de puro êxtase, euforia, realização, enfim, a felicidade. O trabalho é um mal necessário, um preço a se pagar para que a vida valha a pena, nem que seja somente quando chegar a sexta-feira! De onde vem essa ideia? Por que o trabalho precisa ser encarado como castigo? Será que simplesmente a maioria das pessoas está na atividade errada? Ou esta cultura de desprezo pelo trabalho é fruto de algo mais profundo em nossa cultura?

Existe uma crença popular que relaciona o trabalho com castigo. Mas, de onde vem esta crença? Por muito tempo, na história, houve uma interpretação equivocada dos três primeiros capítulos do livro bíblico de Gênesis a respeito disso. E, como o nosso mundo Ocidental, especialmente, é marcado pelo cristianismo, muitos acabam disseminando a falsa doutrina de que o trabalho é um castigo por causa do pecado. Adão e Eva teriam desobedecido a Deus e, assim, como castigo, a humanidade sofre precisando trabalhar para obter do suor de seu rosto o pão de cada dia. Há quem ainda acredite nisso! Para piorar, a origem etimológica da palavra trabalho também remete à dor, sofrimento, tortura, castigo. O termo vem do latim TRIPALIUM, que designava um instrumento de tortura formado por três estacas agudas (tri + palum = Três paus). Esta palavra passou ao francês como TRAVAILLER, significando “sofrer, sentir dor”, evoluindo depois para “trabalhar duro”. Logo, trabalhar é sofrer como num Tripalium. Não nos admiremos, pois, que muitos encarem o trabalho como algo a se evitar a todo custo.

Com a tradição protestante, homens como Martim Lutero e João Calvino contribuíram para resgatar uma compreensão novamente próxima ao que a Bíblia realmente apresenta sobre o tema. O trabalho jamais pode ser encarado como um castigo de Deus. Pois não existe nenhum ensinamento bíblico neste sentido. Assim, precisamos reaver o sentido e a importância da palavra vocação em nossos dias. Mesmo que não houvesse ocorrido a desobediência de Adão e Eva, o trabalho já estava nos planos de Deus na origem da Criação. Originalmente a palavra vocação vem de VOX e VOCARE, do latim significando “voz que chama”. Uma releitura dos capítulos um e dois de Gênesis no levará a concluir que Deus chama os seres humanos para envolverem-se na administração e cultivo da sua boa criação. Logo, esta atividade humana constava na avaliação de Deus que concluiu que “tudo havia ficado muito bom” (Gênesis 1.31).

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Carreira: escolhas e perspectivas

Muita frustração, depressão e infelicidade na vida das pessoas é consequência de opções feitas na hora de escolher uma carreira ou uma profissão. Aquilo com o que nos ocupamos durante a maior parte de nosso tempo é algo fundamental e não deveria ser tratado com desprezo e negligência. Se os vendedores de colchão gostam de dizer que gastamos pelo menos um terço de nossa vida dormindo, é verdade também que uma parcela considerável da vida é investida no trabalho. Descobrir a sua própria vocação é, portanto, algo de muita importância. Atualmente não se espera mais que uma pessoa permaneça toda a sua vida num mesmo emprego, numa mesma função, e, nem mesmo numa única carreira. Se já houve um tempo em que começar num emprego e ficar nele por anos a fio era sinônimo de competência e sucesso, este tempo ficou para trás. O mercado de trabalho hoje é muito mais dinâmico e requer atualização constante. Nesta realidade de múltiplas opções, a pressão e a ansiedade aumentam.

 Diante do chamado mercado de trabalho, existe algo fundamental que muitas vezes deixamos escapar. Trata-se da motivação. Não me refiro ainda à motivação com que você acorda e vai trabalhar todos os dias. Esta tem a sua importância e pode ser reveladora. Mas, refiro-me à motivação anterior, aquela com que você escolhe um curso, uma carreira, uma profissão. Por que fazer este curso e não outro? Por que você está nesta empresa e não em qualquer outra? Quais foram as razões que te levaram a escolher esta profissão? Se pensarmos nos jovens que tem nos exames de seleção a oportunidade de iniciar uma faculdade, talvez as respostas sejam as mais variadas. Desde a forte influência dos pais, passando pelo leque de opções disponíveis até a escolha pelo curso que promete status e mais dinheiro. Não há dúvida de que começar com a motivação errada trará consequências para toda a vida.

É fato que nem todas as pessoas podem contar com uma ampla gama de possibilidades no momento de escolher qual carreira seguir. Condicionamentos culturais, familiares, econômicos, geográficos e etc geralmente se impõem fortemente. Assim, muitos hoje podem dizer apenas: “Eu não tive outra opção!” Há, no entanto, aqueles que não se acomodam. Usam a formação que lhes foi possível no momento para alavancar o sonho que apenas foi prorrogado. Fazem o que lhes é possível no momento visando um objetivo maior à frente. Temos, portanto, questões chave no que se refere à vocação: Como fizemos ou faremos as nossas escolhas? O que faremos com aquilo que já escolhemos? Como temos encarado o trabalho que temos diante de nós todos os dias? Somos meras vítimas ou algumas coisas dependem de uma reorientação de perspectivas?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

O Fim das Escolas Especiais?

Temos acompanhado pelo noticiário a ocorrência de manifestações pelo Brasil contra o fechamento das escolas especiais. O fato é que há uma proposta para se votar pelo fim dos repasses do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) às instituições que oferecem ensino especial. De maneira resumida, para o povo soava mais ou menos assim: o MEC quer acabar com as APAES. Parece ser o caso, mais uma vez, de pessoas querendo ditar o que é melhor para os outros sem estarem diretamente envolvidos com a matéria sobre a qual desejam legislar. Pais e educadores diretamente envolvidos com a questão demonstram-se contrários ao fim das escolas especiais. Caso emblemático é o do senador Wellington Dias (PT-PI), que é pai de uma adolescente autista. Apesar de ser do partido identificado ideologicamente com as propostas igualitárias, ele é um crítico ao texto da proposta. A chamada meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE) sofrerá uma nova redação graças à pressão popular.

Importante destacar ainda que estas escolas oferecem muito mais do que um mero passatempo às crianças e jovens assistidos. Sem falar de muitos adultos com necessidades especiais e que também tem recebido assistência nestas escolas. É simplesmente impressionante como num país onde a educação é tratada com tanto desleixo, quando surgem novas propostas, estas apontarem na direção de acabar com aquilo que ainda funciona. Qual seria a ideologia por trás de tais medidas? Com quais argumentos esse tipo de matéria é proposta? O que seria de fato uma educação inclusiva? Faz algum sentido brincar com as pessoas e formular palavras bonitas quando não existe o mínimo para se garantir uma educação digna aos brasileiros? Como simplesmente obrigar os pais de alunos especiais a colocarem seus filhos nas instituições de ensino regular quando estas não recebem do Governo subsídio, suporte e estrutura adequados?

Enquanto por um lado se critica o nivelamento e o tratamento massificante na educação, por outro querem nivelar ainda mais? As pessoas não são todas iguais e requerem, sim, uma atenção diferenciada. Aceitar isso não é nenhum crime e nem pode ser rotulado como preconceito. Qualquer pai ou mãe que tenha mais de um filho já sabe que as crianças são diferentes, aprendem de formas diferentes e requerem uma atenção individualizada. O Brasil é especialista em criar e aprovar leis. Será que não seria possível criar primeiro projetos modelo, testar as ideias antes de sair propondo leis? Já está mais que provado que a maioria das leis no Brasil “não pegam” ou simplesmente pioram as coisas por ignorarem completamente a verdadeira realidade das pessoas.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Será que essa ilusão é a nossa herança

Champignon e Claudia Campos
Fiz essa canção pra dizer algumas coisas. Cuidado com o destino. Ele brinca com as pessoas. Tipo uma foto com sorriso inocente. Mas a vida tinha um plano e separou a gente” (Meu Novo Mundo - Charlie Brown Jr.). São diversas as composições e canções da banda Charlie Brown Jr. que podemos encontrar compartilhadas na internet. Uma banda marcada pelo sucesso, especialmente com o público jovem. Mais recentemente marcada também por tragédias. Assim como o vocalista Chorão, agora outro músico da banda foi encontrado morto em seu apartamento. O primeiro morreu por overdose. Champignon cometeu suicídio utilizando-se de uma pistola. Entre março e maio de 2013 ele perdera duas pessoas próximas, além de Chorão, também o guitarrista Peu Sousa com quem trabalhara. O guitarrista foi encontrado morto em sua casa em Salvador. Sobre as duas mortes Champignon teria dito algo como: “Os dois perderam a fé. Quando perdem a fé, perdem a vontade de viver”.

É sempre muito difícil falar sobre as tragédias na vida humana. Podemos facilmente julgar e agir com insensibilidade. Teríamos o direito de especular sobre os dilemas existenciais na vida de quem resolve, de repente, tirar a própria vida? Champignon havia se casado há poucos meses, sua esposa está grávida de cinco meses e eles tinham acabado de chegar do restaurante onde jantaram juntos. Assim que entraram em casa, ele vai para o quarto e tudo que sua esposa escuta é um estampido, um tiro de pistola. Uma overdose, um salto, um tiro, uma corda... Enfim, consumado. Quais seriam os sinais de uma trajetória suicida que certamente começa bem antes do momento fatídico?

Nenhuma bela frase dita no esforço de compreender tais atitudes drásticas ameniza a dor de quem fica. Não resta apenas um mundo frio e inerte, mas, corações quentes, amorosos e que além da saudade podem sentir-se culpados. O que eu fiz de errado? O que eu poderia ter feito para ajudar? Eu falhei em alguma coisa? A carreira bem sucedida, uma bela mulher, a expectativa de ser pai novamente, nada disso foi suficientemente significativo para impedir que Champignon encerrasse prematuramente a sua vida. Enquanto alguém pode imaginar que até mesmo deixar de viver pode ser algo a que uma pessoa tem direito, fica a dúvida quanto às implicações disso para com aqueles que compartilhavam com ele a vida. É justo pedir simplesmente compreensão? Não sei.

A música certamente fala fundo aos corações. “...a vida cobra muito sério e você não vai fugir. Não pode se esconder e não deve se iludir. Somos herdeiros da evolução. Mas se o mundo é tão desumano. Será que essa ilusão é a nossa herança. Não somos problemas sem solução. Mas se o mundo é tão desumano. Será que essa ilusão é a nossa herança” (Ninguém Entende Você - Charlie Brown Jr.).

domingo, 1 de setembro de 2013

Cuidar e Cultivar

O texto inicial que nós encontramos em Gênesis, na Bíblia, é fundamental para que possamos compreender também o restante das escrituras. A Bíblia não é um livro de autoajuda e nem deve ser lido apenas aos fragmentos. Existe uma coerência, uma narrativa que vai encadeando os fatos de modo que encontramos ali uma visão abrangente do mundo e da realidade. Quando partimos apenas de algumas partes isolando-as do todo, corremos o risco de dizermos coisas que, na realidade, nunca foram intenção dos autores bíblicos. Manipular textos de modo que possamos utilizá-los para fundamentar nossos próprios interesses é uma prática tão antiga quanto a própria escrita. A Bíblia não deve ser lida apenas para retirar dali versos que nos consolem ou que tragam alguma motivação para o dia a dia. Embora possamos, sim, ser consolados e motivados pelas palavras que lemos nos Salmos, nos profetas, nos evangelhos ou nas cartas de Paulo, estaríamos fazendo um uso muito superficial se tratássemos a Bíblia apenas como um manual para uma vida melhor.

Como livro sagrada dentro de uma importante tradição de fé, a Bíblia fornece fundamentos e princípios a respeito do drama cósmico que envolve a humanidade. Ela começa dizendo que não somos fruto de mero acaso, mas, que somos resultado de um gesto criativo e amoroso. Um Deus nos criou bem como todas as coisas. Compreender isto implica em perguntar não apenas como fomos criados, mas, por quê ou para quê fomos criados. Assim, a Bíblia também não pode ser tratada como uma espécie de manual científico. Trata-se de um livro bastante antigo, produzido numa época quando a ciência moderna ainda não existia. Logo, as escrituras precisam, também, ser respeitadas em seu contexto.

Compreender os capítulos iniciais da Bíblia, portanto, é fundamental porque se compreendemos que fomos criados, o relato de Gênesis revela também que fomos colocados na criação de Deus com aptidões e responsabilidades. Um estudo minucioso dos capítulos um e dois do Gênesis levará à conclusão de que é nossa responsabilidade gerir bem a criação de Deus. É como se o Criador nos tivesse feito por último para que déssemos continuidade ao ato criativo que herdamos dele: “O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo” (Gênesis 2:15). Existe uma relação entre as palavras cultivar e cultura. Logo, estamos falando, aqui, de nossas interações com o mundo. Desta intervenção humana no mundo e na realidade é gerado algum tipo de desenvolvimento. Logo, temos uma relação entre a cultura e a história. Somos responsáveis e não podemos simplesmente nos eximir disso. Que tipo de cultura tem resultado de sua interação com a realidade criada?

Leia também:
O que a Bíblia Diz Sobre Meio Ambiente
O Mandato Cultural
Somos Todos Responsáveis Pela Natureza

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Somos Todos Responsáveis Pela Natureza

Isso mesmo! Cristãos preservam, protegem e defendem a natureza. Se alguém se diz cristão e trata com desleixo a sua cidade, a sua casa, o seu quintal e o meio em que vive, é porque ainda não compreendeu as reais implicações de sua fé. Sabemos também que é natural encontrar pessoas que se dizem uma coisa e que com suas atitudes demonstram algo diferente e, até, contrário. Lamentável. O processo de aprendizagem, no entanto, é progressivo. Há esperança. Coloquemo-nos humildemente diante de Deus e, que nossas mentes sejam transformadas, dia após dia, para que experimentemos a sua vontade que é boa, perfeita e agradável (Romanos 12. 2).

É realmente uma pena que a tradição cristã tenha deixado se impregnar de uma crença que divide a realidade em duas: espiritual e físico. Esta divisão, que é uma herança da cultura grega, faz com que muitos religiosos encarem o mundo físico e, portanto, grande parte da criação de Deus, como algo ruim, mal, negativo. Logo, desenvolve-se a crença de que importante mesmo é a alma, o espírito, o céu. O desafio consiste em buscar na tradição hebraica uma compreensão do ser humano, da vida e do mundo que seja integral. Se Deus criou todas as coisas e avaliou tudo como sendo muito bom (Genesis 1. 31), então, precisamos rever nossos conceitos dualistas. Pois muito da relação descomprometida com a natureza, os animais e o meio ambiente em geral, pode ser fruto desse equívoco que distorce a realidade.

Vejamos alguns textos bíblicos que relatam a criação. “Disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais grandes de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão. Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1.26-27). E, “Deus os abençoou, e lhes disse: Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra" (Gênesis 1.28). Mais adiante: E, finalmente, “depois que formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, o Senhor Deus os trouxe ao homem para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome. Assim o homem deu nomes a todos os rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens” (Gênesis 2.19-20). Releia prestando atenção nos verbos dominar, multiplicar, encher, subjugar, nomear. São ações que se espera de quem? Portanto, Deus colocou o ser humano delegando a eles responsabilidades para com a sua boa criação.

sábado, 17 de agosto de 2013

“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”

Enquanto Deus encarnado, Jesus Cristo percorria a região da Palestina e gostava de conversar e ensinar. O grupo de doze discípulos tinha o privilégio de acompanhar e participar mais de perto da vida e dos ensinamentos do metre. Os feitos e os ensinamentos de Jesus logo o tonaram conhecido e sua fama se espalhava. Por isso, certo dia, num diálogo com seus amigos mais próximos, Jesus dizia: “As pessoas por aí, de acordo com o que vocês me relataram, tem diferentes impressões a meu respeito. Uns dizem que eu sou João Batista, outros que eu seria Elias, tem até quem diga que sou Jeremias ou algum outro profeta. Mas, e vocês, eu quero saber o que vocês dizem que eu sou?”

“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” - respondeu imediatamente Simão Pedro. Ao que Jesus retrucou: “Feliz é você, Simão, filho de Jonas! Porque isto não lhe foi revelado por carne ou sangue, mas por meu Pai que está nos céus. E eu lhe digo que você é Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não poderão vencê-la”. O tempo passou. Jesus fez e ensinou ainda muitas outras coisas. Até que finalmente foi crucificado, morto e sepultado. Depois de sua ressurreição e ascensão, a igreja começava a se espalhar com a pregação do evangelho. Os discípulos, também conhecidos como apóstolos, se empenhavam nesta tarefa pregando e se comunicando por meio de cartas com as novas comunidades que iam surgindo. E, aquele mesmo Pedro do grupo de Jesus, é um dos pregadores e líderes das comunidades emergentes. Certa vez, pregou a respeito daquele Jesus e o seu evangelho dizendo: “Este Jesus é a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular. Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos”.

A mensagem de Pedro indicava que ele havia entendido bem as palavras do seu mestre. Algum tempo depois de pregar as palavras acima, encontramos este mesmo Pedro escrevendo à Igreja: “À medida que se aproximam dele, a pedra viva — rejeitada pelos homens, mas escolhida por Deus e preciosa para ele — vocês também estão sendo utilizados como pedras vivas na edificação de uma casa espiritual para serem sacerdócio santo, oferecendo sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo. Pois assim é dito na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, escolhida e preciosa, e aquele que nela confia jamais será envergonhado. Portanto, para vocês, os que creem, esta pedra é preciosa; mas para os que não creem, a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular”.

Sim. Pedro sabia quem era a pedra, o verdadeiro fundamento da Igreja, bem como quem é que a edifica (Confira Mateus 16.13-18; Atos 4.11-12; I Pedro 2.4-7).

terça-feira, 6 de agosto de 2013

“Saiu Igualzito ao Pai”*

Saber que somos feitos à imagem e semelhança de nosso criador (Gênesis 1. 27) significa compreender muitas coisas. Sabemos que estamos ligados a uma fonte transcendente que é capaz de nos completar e dar sentido à vida. Encontramos também respostas a respeito de nossa vocação. Aos criar o ser humano, Deus esclarece que ele deveria cuidar e cultivar a terra, dar nome aos animais, crescer e reproduzir-se (Gênesis 1 e 2). Várias gerações mais tarde recebem de Deus aquilo que ficou conhecido como Os Dez Mandamentos (Êxodo 20). Dentre estes mandamentos encontramos aquele que diz: "Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra” (Êxodo 20. 4). Na tradição bíblica, um ídolo não era compreendido como sendo outro Deus em si. Mas, como aquilo que representava o verdadeiro Deus na terra. O ídolo era simbólico. Não vendo Deus, sentindo a falta de uma presença de Deus, o povo criava uma imagem para este Deus. Portanto, é isso que Deus está dizendo para o povo não fazer!

O problema é que o povo, na ânsia de ter uma manifestação local, um Deus visível, concreto, presente, logo procura retratar este Deus. Por exemplo, durante a peregrinação do povo de Israel pelo deserto rumo à Canaã, Moisés era o líder e, para o povo, o porta voz, a representação de Deus. Quando Moisés demora-se no monte, o povo resolve criar outra imagem de Deus para si (Êxodo 32). É quando decidem criar o seu bezerro de ouro. O problema em criar imagens representativas de Deus é que atribuímos a essa imagem características da nossa humanidade. E, logo nos esquecemos do verdadeiro Deus e passamos a adorar a sua imagem. O resultado é que se adora um ídolo que não representa de fato quem Deus é. Por que, então, Deus diz que não devemos criar ídolos ou imagens de Deus? Ora, se um filho cresce com a tendência de tornar-se parecido, tanto fisicamente quanto em personalidade, com os seus pais, lembremo-nos de que a imagem de Deus na terra já existe. Quem foi criado à imagem e semelhança de Deus?

Toda imagem que fizermos será não apenas algo menor e mais limitado que Deus, mas, também mais limitado que nós mesmos. Sem falar que me ponho no lugar de Deus ao querer eu mesmo criar algo à imagem e semelhança dele. Tudo o que eu vou conseguir será reproduzir algo que se parece mais comigo do que com Deus. Tudo isto faz parecer ridículo qualquer crença num objeto, num imagem de escultura, ou qualquer outra coisa que elegemos para adorar. É ainda mais sério quando voltamos à questão da semelhança: com quem nos tornamos mais parecidos ao longo da vida? O salmista diz que os ídolos são feitos por mãos humanas. E, tornamo-nos como eles ao fazê-los e confiar neles (Salmos 115. 1-8). Tornar-se parecido com algo menor do que aquilo para o qual fomos criados é desumanizar-se! A desumanização é fruto de nossa idolatria!


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 * Enquanto escrevia este texto lembrei desta frase que está nesta música que é muito conhecida aqui no Rio Grande do Sul: Guri - Os Serranos. Na internet é possível encontrar diversas outras versões e regravações com muitos outros intérpretes.

terça-feira, 30 de julho de 2013

“Esculpida em Carrara”

Depois que passamos a ter filhos notamos o quanto as pessoas fazem observações tentando identificar as semelhanças do bebê com seus pais. Enquanto uns encontram mais semelhança com a mãe, outros já veem a imagem do pai. Fato é que cada indivíduo é único, exclusivo, ao mesmo tempo semelhante e alguém diferente. Além de nos parecermos uns com os outros, existe ainda uma semelhança que diz respeito à nossa origem. É natural que um bebê apresente traços físicos e de personalidade que lembram os seus pais. Mas, com origem, refiro-me, ainda a algo mais. Assim como temos o nosso umbigo que lembra que não fomos feitos de e por nós mesmos, o ser humano também sabe que possui uma origem transcendente. Sabemo-nos, consciente ou inconscientemente, conectados a uma origem, a algo que está além, acima, e é maior do que nós. Por isso, nós estamos invariavelmente inclinados a nos conectar com algo, a buscar pelo que nos completa, que nos preencha e dê sentido. Somos, portanto, também portadores de uma imagem e uma semelhança que reflete esta fonte originadora.

Todos nós possuímos as nossas crenças, teorias e explicações para esta origem. E, como nem mesmo as teorias tidas como científicas gozam de aceitação universal, vivemos num mundo onde cada um acredita naquilo que pareça fazer mais sentido. Como cristãos, cremos que a nossa origem está em Deus. Lemos em Gênesis 1. 27 que “criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Existe uma longa tradição de textos e discussões a respeito do que seria essa imagem e semelhança de Deus no ser humano. Não haveria tempo e espaço aqui para fazermos uma exposição exaustiva a respeito. De forma bem resumida, a tradição reformada do cristianismo acredita que temos aí duas coisas, basicamente: 1) que fomos criados para governar sobre a Terra, sobre a boa criação de Deus; 2) Que existe em nós uma origem fora de nós, o que nos torna seres religiosos, adoradores, cultuadores. Assim como o umbigo lembra que nascemos de outro ser humano, a nossa essência religiosa nos leva a concluir que fomos criados por alguém que transcende o mundo que conhecemos.

Para compreender o primeiro ponto, basta verificarmos o quanto somos criativos, seres culturais, que interferem na realidade dando origem a novas coisas. Foi assim que Deus nos criou. É o mandato cultural. As duas questões estão inter-relacionadas, e, o ser humano criado à imagem de Deus é um adorador. Ele busca e necessita da referência transcendente assim como é fundamental para a criança crescer sob a educação, orientação e referencial dos pais. Sem Deus estamos incompletos! Ninguém é capaz de deixar de sentir esta ausência! A nossa tragédia inicia quando achamos que podemos preenchê-la com algo menor que Aquele que deu origem a tudo!

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* Quando falamos que fulano é o pai cuspido e escarrado, queremos dizer que o sujeito em questão é muito parecido com o genitor. E foi também por ser parecida com sua expressão original que o termo “cuspido e escarrado” surgiu. Ele é, na verdade, resultado de alguns mal-entendidos. No Brasil colonial, os barões do café contratavam artistas para esculpirem seus bustos, num sinal de pompa. Para retratar fielmente o barão, era exigido que sua imagem fosse esculpida em mármore de carrara, famosa pedra italiana conhecida por ser o mármore mais duro que existe. A estátua, que ficava realmente muito parecida com o ilustre modelo, deu origem à expressão “esculpida em carrara”. Acontece que, da cozinha, os criados acabaram distorcendo-a para “cuspido e escarrado”. A nova – e bem mais nojenta – versão acabou pegando.

sábado, 13 de julho de 2013

O Mandato Cultural

O Semeador de Vincent Van Gogh
Você já ouviu falar em Mandato Cultural? Mandato implica numa ordem, uma delegação, uma autorização ou procuração que alguém dá a outrem para, em seu nome, praticar certos atos. Quando os cristãos se referem à Grande Comissão, por exemplo, referem-se, normalmente, às palavras de Jesus encontradas em Mateus 28.19-20. Com isso, interpretam que Jesus comissionou, ou seja, deixou um mandato evangelístico à igreja. Significa que cada cristão é um missionário encarregado de propagar o evangelho. Porém, o Mandato Cultural é anterior ao mandato evangelístico. O termo cultural, obviamente, refere-se à cultura. Em sua origem a palavra cultura estava relacionada com o ato de plantar e cuidar de plantas. Se existe um texto bíblico referência para o mandato evangelístico, encontramos também uma referência ao Mandato Cultural. Na criação o relato de Genesis nos diz que “o Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo” (Gênesis 2:15). Portanto, aqueles que creem num Deus criador assumem também esta responsabilidade para com a criação. As responsabilidades dos seres humanos para com a criação estão explicitadas também nos relatos de Gênesis 1. 26-30 e 2. 15-20. Estes textos que compreendem a criação do ser humano revelam aquilo que se espera destas criaturas feitas à imagem e semelhança do seu criador.

A ordem de Deus desde o princípio foi para que os seres humanos dominassem, subjugassem, cuidassem e cultivassem a criação. E, esta não poderia ser uma tarefa possível sem o envolvimento direto que configura trabalho para os seres humanos. Tal responsabilidade pressupõe a participação ativa do ser humano no desenvolvimento cultural do mundo. Deus chama o ser humano como um cooperador na tarefa de colocar ordem na sua Criação. Desde o princípio, trabalhar e cultivar o jardim são parte de nossa vocação divina. A cultura é, portanto, o resultado de nossa interação com a realidade. Todo resultado de nossa interferência na realidade é um produto cultural. Desta intervenção humana no mundo e na realidade é gerado algum tipo de desenvolvimento. Logo, temos uma relação entre a cultura e a história. Deus comissionou os seres humanos a participarem ativamente na sua criação e a desenvolverem cultura.

No desenvolvimento cultural a humanidade progrediu do cultivo de plantas até pesquisas de ponta que permitiram as descobertas mais extraordinárias. Temos hoje tecnologias que os seres humanos mais primitivos jamais poderiam imaginar. Que tipo de resultados essa nossa intervenção na realidade tem gerado? O padrão para compreendermos as palavras envolvidas no Mandato Cultural é o próprio Deus e sua avaliação da Criação em Gênesis 1.31: “E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom”. Além de evangelizar, portanto, somos chamados por Deus a desenvolvermos a cultura de modo que esta reflita a boa, perfeita e agradável vontade de Deus.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Ainda Não é o Fim

O ano de 2013 vem sendo marcado por uma série de manifestações pelo mundo. Seria arriscado querer listar os motivos dos protestos, uma vez que vários fatores vêm sendo apontados, dependendo do país onde ocorrem. Nota-se, no entanto, que em alguns casos uma reivindicação bem específica e pontual gera o primeiro movimento que torna-se o desencadeador de algo maior. Foi assim na Turquia com os primeiros protestos devido a um plano das autoridades para fazer mudanças no parque Gezi, na praça Taksim, em Istambul. Foi assim no Brasil onde o movimento começou protestando contra mais um aumento no preço das passagens do transporte coletivo. Vários fatores desde o desemprego até o aumento nos índices de criminalidade parecem ter sido o estopim das manifestações no Egito que acabou depondo o presidente Mohammed Morsi apenas um ano depois de sua eleição. Podemos acrescentar ainda a crise econômica e a instabilidade que são ameaça em todo mundo. Na era da informação, como manter alguma sensação de segurança diante de tantos rumores?

Viver é arriscar-se. Diz-se que o primeiro grande trauma a que somos submetidos ocorre no nascimento. Deixar o útero seguro da mãe é entrar neste mundo repleto de riscos, ameaças e todo tipo de mal. Ainda assim, todos celebram o dia de seu nascimento. De modo geral as pessoas encaram a vida como algo que vale a pena. De fato, por mais que um país seja pacífico e todas as coisas pareçam funcionar em seus lugares, permanece certo grau de risco. A morte permanece à espreita. Sempre foi assim. No entanto, uma palavra bíblica comum é “não tema”. Ao mesmo tempo, enquanto caminhamos orgulhosos, mostrando aos outros nossas conquistas e símbolos de status e poder, escutamos de Jesus algo como seu grupo mais próximo teve que ouvir: "Vocês estão vendo tudo isto? Eu lhes garanto que não ficará aqui pedra sobre pedra; serão todas derrubadas" (Mateus 24:2).

Dentre as diversas vantagens em se ler e estudar a Bíblia, o fato de com isso não nos espantarmos mais com tantas coisas que acontecem ao redor é só mais uma delas. Enquanto Deus continua a erguer e derrubar impérios pelo mundo ao longo da história, aos seus Ele deixa um recado aparentemente singelo, porém, cheio de graça e misericórdia: “Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados” (Mateus 10:30). Nada foge à soberania e à autoridade de Deus. Ele que criou todas as coisas permanece no controle de tudo. Portanto: “Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras, mas não tenham medo. É necessário que tais coisas aconteçam, mas ainda não é o fim” (Mateus 24:6).

terça-feira, 2 de julho de 2013

As Autoridades Governamentais

As autoridades governamentais não existem para si mesmas. Quando o apóstolo Paulo trata sobre o assunto, deixa claro que as autoridades existem para trabalhar pelo bem das pessoas, manter a ordem e punir aqueles que praticam o mal (Romanos 13. 3-5). Ao longo da história vários trabalhos, debates e reflexões se deram em torno da organização do estado e do papel das autoridades. No entanto, perceber que este tema é abordado já nas Escrituras, nos leva a refletir sobre o assunto numa perspectiva cristã. A grande revelação dos ensinamentos bíblicos é que nenhuma autoridade está livre da prestação de contas. Se no estado democrático de direito os governantes devem responder ao povo, antes disso, sabemos que as autoridades também respondem a Deus: “pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas” (Romanos 13. 1). E, não se trata apenas das boas autoridades, mas, todos aqueles que governam, desde o mais justo até o mais tirânico. Lembremos as palavras de Jesus à Pôncio Pilatos: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim, se esta não te fosse dada de cima” (João 19. 11).

A função de governar é algo legítimo. Uma nação deve se organizar com suas leis e autoridades. Os cristãos não são anarquistas ou subversivos irresponsáveis. Reconhecemos o valor das autoridades e nos submetemos a elas. Nós sabemos que o ideal divino é diferente da realidade humana. Todo cristão sabe da realidade do pecado. Embora esta palavra não seja muito popular, sendo substituído por tantos outros sinônimos, o ser humano carrega em sua natureza o potencial para o mal. Por isso, não deveríamos nos deixar enganar pelas falsas utopias. Nenhuma autoridade é instituída e autorizada a agir com tirania contra o povo. O limite da nossa obediência vai até onde a obediência ao estado não implicar em desobediência a Deus. Simplesmente dar vazão a todo nosso potencial de destruição e vandalismo de maneira inconsequente implica em outra coisa. Quando vândalos saem para causar dano ao patrimônio, seja público ou privado, então, estes não se encaixam em algum tipo de desobediência ou protesto civil, pois estão cometendo crime.

A função do Estado é reprimir o potencial de destruição anárquico do ser humano. “Os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem” (Romanos 13. 3). Os principais reformadores eram defensores da submissão às autoridades, embora não irrestrita. Mas, eles conheciam o risco que é deixar poder demais concentrado nas mãos de uma só ou poucas pessoas. Lembro as palavras de João Calvino: “é por causa dos vícios ou imperfeições dos seres humanos que a mais tolerável e confiável forma de governo consiste em várias pessoas governarem [conjuntamente], cada uma auxiliando as outras e lembrando-lhes seu dever; de tal modo que, se algum deles elevar a si mesmo em demasia, os outros poderão agir como seus censores e senhores”.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

A Cada Um o Que Lhe é Devido

Escrevendo para a igreja de Roma, o apóstolo Paulo apresenta um trecho interessante e que deveria ser motivo de reflexão neste momento que o Brasil está vivendo. Já naquela época Paulo trata de questões que envolvem a relação entre cristãos (igreja) e Estado. A época e o contexto político obviamente são diferentes. Paulo não está falando de nenhum Estado cristão. Também sequer está falando de governantes cristãos. O cristianismo era marginal, estava iniciando. Não havia governantes cristãos ou alguma coisa parecida com um Estado cristão. Pelo contrário, eram todos romanos ou judeus e, na maioria dos casos, bastante hostis aos cristãos. Refiro-me ao trecho de Romanos 13. 1-7.

Todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus; as autoridades que existem foram por ele estabelecidas. Portanto, aquele que se rebela contra a autoridade está se colocando contra o que Deus instituiu, e aqueles que assim procedem trazem condenação sobre si mesmos. Pois os governantes não devem ser temidos, a não ser pelos que praticam o mal. Você quer viver livre do medo da autoridade? Pratique o bem, e ela o enaltecerá. Pois é serva de Deus para o seu bem. Mas se você praticar o mal, tenha medo, pois ela não porta a espada sem motivo. É serva de Deus, agente da justiça para punir quem pratica o mal. Portanto, é necessário que sejamos submissos às autoridades, não apenas por causa da possibilidade de uma punição, mas também por questão de consciência. É por isso também que vocês pagam imposto, pois as autoridades estão a serviço de Deus, sempre dedicadas a esse trabalho. Deem a cada um o que lhe é devido: Se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra” (Romanos 13:1-7).

Nosso partidarismo pode fazer com que tenhamos diferentes reações diante destas palavras. Alguns podem celebrá-lo, outros condená-lo. Enquanto para alguns o texto não passa de manipulação religiosa para manter as coisas como estão, outros o tomam como justificativa para falar contra toda e qualquer manifestação. As reações aos acontecimentos em torno das manifestações no Brasil tornaram-se uma disputa ideológica. As leituras mais superficiais veem tudo como uma disputa entre esquerda e direita. Enquanto permanecer esse tipo de disputa partidária e ideológica do poder pelo poder, as razões legítimas que levam o povo a clamar nas ruas mais uma vez ficam em segundo plano. E, o que é pior, não importa quem, no final, vencerá a guerra, o mais importante não é o que se pode agora fazer pelo povo, mas, apenas impor a sua agenda pelo poder absoluto. Enquanto se desenrola batalha após batalha na luta pelo poder, a única certeza que se têm é que os perdedores continuam os mesmos.

Para ler mais sobre o meu pensamento a respeito de como os cristãos deveriam se colocar frente às ideologias e pluralidade de propostas, lei o artigo O Cristão Retém O que é Bom.

terça-feira, 18 de junho de 2013

O Brasil Em Ebulição

O dia dezessete de junho de 2013 ficará para a história como aquele em que o Brasil acordou mais uma vez. Manifestações por todo o país tomaram conta das manchetes. A televisão não consegue mais ter o mesmo poder de distorcer os fatos. A internet e as redes sociais parecem começar a mostrar a sua força. Entre as diversas frases em cartazes erguidos por jovens podia se ler um que dizia: “saímos do Facebook!” Outra marca deste momento é o repúdio demonstrado contra os partidos políticos. Embora algumas bandeiras de partidos pudessem ser vistas, os protestantes em geral as hostilizavam. Em Belo Horizonte a letra de uma canção estampava outro cartaz: “o meu partido é um coração partido”. Enquanto nas grandes cidades do país milhares saem às ruas, na internet, no rádio e na televisão “especialistas” são entrevistados e chamados a dar sua opinião sobre o momento. Embora ainda não se saiba ao certo quais serão as consequências práticas de toda esta mobilização, o Brasil chamou a atenção do Mundo com algo mais que samba, mulatas e futebol.

Os governantes, num país democrático, são eleitos para cargos específicos e devem atender a objetivos bem concretos. Quando estes não cumprem aquilo para o que foram eleitos, a população tem todo o direito de se manifestar. A violência e o vandalismo devem ser repudiados. Dentre as expectativas pelo desdobramento das manifestações vislumbra-se um ano de eleições em 2014. Será que tudo isso repercutirá nas urnas? Pois é fato que muitos dos que hoje ocupam cargos nas diversas esferas de poder precisam ser retirados de lá. As vultosas quantias de dinheiro que são desviados com a corrupção poderiam garantir melhores condições de saúde, educação, segurança e transporte. Aliás, o discurso sobre a falta de recursos para estas questões básicas em contraste com os bilhões gastos para construir estádios suntuosos Brasil afora, soou como um despertador para um país que repousava em berço esplêndido.

A revolução dos vinte centavos extrapolou para uma pauta mais ampla. O perigo é se perder em generalizações e questões intangíveis que dispersam. Também não faltarão aqueles para se aproveitar do momento. Muitos oportunistas tentando se promover à custa! É quase impossível evitar algumas anomalias deste tipo bem como aqueles que saem para depredar o patrimônio público. Existe um risco sempre presente em grandes aglomerações. Mas, se o movimento ainda não mobilizou ao patamar das “Diretas Já” de 1984 ou dos “Caras Pintadas” pelo impeachment de Fernando Collor em 1992, é fato que a mobilização popular volta a pressionar. A primeira eleição direta após a ditadura não foi imediata. E, quando ocorreu, elegeu Collor. Estaríamos demonstrando que estamos aprendendo mais algumas lições sobre democracia?

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre as Manifestações Pelo Brasil

Um Salmo:

"Deus está na congregação dos poderosos; julga no meio dos deuses. Até quando julgareis injustamente, e aceitareis as pessoas dos ímpios? Fazei justiça ao pobre e ao órfão; justificai o aflito e o necessitado. Livrai o pobre e o necessitado; tirai-os das mãos dos ímpios. Eles não conhecem, nem entendem; andam em trevas; todos os fundamentos da terra vacilam. Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo. Todavia morrereis como homens, e caireis como qualquer dos príncipes. Levanta-te, ó Deus, julga a terra, pois tu possuis todas as nações"
(Salmos 82:1-8)

Um comentário da época da Reforma Protestante:
"[...] tudo o mais precisa ser tentado antes de se recorrer às armas. E nas duas espécies de atividade [a guerra e a punição de criminosos] os magistrados não devem se deixar empolgar por nenhuma paixão de ordem pessoal, porém ser guiados exclusivamente por uma preocupação pelo bem público. Fazer qualquer outra coisa representa o pior abuso de sua autoridade, que lhes é dada para o benefício e o serviço de outros, e não deles próprios"
(João Calvino, As Institutas - Sobre o Governo Civil)

O desafio consiste em observar os princípios e manter a capacidade de indignar-se contra a injustiça!
jovem com cartaz em manifestação em Belo Horizonte

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Navegar na Rede Sem Cair na Teia

Não sei qual tem sido a tua experiência com a internet e, especialmente as redes sociais. No meu caso, já desde o velho Orkut, um desafio tem sido encontrar uma utilidade que seja realmente construtiva. É muito fácil perder a noção do tempo enquanto navegamos pela rede. O brasileiro é quem, em média, passa mais tempo na internet, mais de oito horas diárias. Como temos investido esse tempo? Acredito que as redes sociais podem, sim, ser de grande utilidade, tanto para a nossa formação como também os nossos relacionamentos.

Ao refletir sobre o uso que fazemos da internet, de modo geral, não consigo ver outro caminho além da velha questão da disciplina. O mal não está naquilo que temos à nossa disposição. Apesar de o ser humano criar algumas coisas que são ruins em si, a regra é que a imagem e semelhança de Deus que herdamos faz com que criemos coisas boas (Genesis 1.31). Se devemos evitar certas coisas não é por causa da coisa em si, mas, por causa de nossa fraqueza. Nós é que damos uma direção errada à boa criação. E, isso acontece desde sempre, seja com a boa criação de Deus seja com a boa criação dos seres humanos. Antes de atacar a internet e as redes sociais, portanto, preciso lembrar-me de que sou pecador e que há dentro de mim um potencial para destruir, desvirtuar, corromper e buscar aquilo que alimente meus vícios e tendências autodestrutivas.

Pesquisas demonstram que infrações na web como racismo, homofobia e pornografia infantil vêm crescendo a cada ano. O mesmo acontece com crimes contra a honra da pessoa, como calúnia, difamação e injúria. De certa forma, a internet parece agir como um encorajador. Explico: pense naquela antiga estratégia de tomar ‘um gole’ antes para conseguir coragem para ir flertar com alguém. A internet funciona mais ou menos assim: pessoas que jamais teriam coragem de fazer determinados comentários frente a frente são capazes de postar ofensas e agressões sem nenhum pudor nas redes sociais. Navegar na rede funciona como estar num boteco virtual. E, isso não só pela ‘embriaguez’ que encoraja, mas também pelo tipo de conteúdo que geralmente é compartilhado. A questão é que nos enganamos, pois assim como somos vistos em nossas gafes depois de uns goles a mais, também há uma pessoa real por trás de cada perfil ou avatar na web. Portanto, não nos embriaguemos demais com a falsa sensação de anonimato e de invisibilidade no uso da internet! Como a rede mundial de computadores oferece cada vez mais um espaço onde as pessoas se relacionam, cresce também a preocupação a respeito de como ali nos relacionamos. A questão, portanto, não é demonizar, mas, conscientizar e fazer bom uso de nossa liberdade.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Na Varanda

Eu contei. Desde quando nasci foram dezessete casas. Muitas mudanças. Quase uma a cada dois anos. Só não consigo me recordar da primeira. Foi onde nasci. Das cinco primeiras casas, até os meus dez anos de idade, todas elas tinham varanda. Depois, quanto maior as cidades, menos varandas.
As varandas da minha infância permanecem vivas na lembrança. Lugar de sentar com os irmãos, a família. Não se importar com o tempo que passa lentamente. Lugar de onde se enxerga longe. Observar e contar os carros que passam na estrada. Varanda é onde o vento passa livremente e a chuva alcança a gente. Lugar de brincar e de comer pão com doce de leite. Lugar também de ensaiar os primeiros desenhos com caroço de abacate. Como a tela foi a parede, os pais não gostaram muito. A varanda era lugar especial nas noites quentes de verão. Lugar de bater papo com os vizinhos.
Varanda virou sacada. Do lugar de convívio sobrou um cubículo decorativo. Hoje me dei conta de que a vida sem varandas é mais triste!
Casas de tios... ES

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