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terça-feira, 24 de abril de 2018

De Maria, Ricardo, Lutero, Valério...

Eu não sei se consigo ser muito bom em contar histórias. Sequer acredito que eu tenha uma boa história para contar. Falo história assim mesmo, com 'h', que é quando nos referimos aos fatos passados de vidas reais. Se é que ainda é possível permanecer fiel à realidade quando restam ainda e tão somente lembranças! Ou seria o que temos hoje ainda algum resquício daquilo que fomos e passamos algum dia? Poderíamos, portanto, dizer que sim, ainda resta uma história!?

Não sei se também acontece com você, mas, existem diversas coisas na minha história, portanto, do meu passado (se é que dá pra chamar assim, de 'meu!), que eu não gosto muito de lembrar. Não sei bem a razão. Os psicologistas diriam, provavelmente, que é porque remetem à coisas ruins. Mas, se por um lado parece ser verdade, por outro, diria, nem tanto. Ás vezes parece somente ser parte de querer seguir em frente. Isso, claro, se for sem pensar muito, pois afinal de contas, quanto mais se vive e conhece da vida, menos parece que há lá adiante a esperar por nós. Será que ainda há algo à espreita, preparado para nos surpreender?

A pequena vila onde nasci, hoje ostenta título de município, emancipado, embora ainda mantenha a humilde designação vila, Vila Valério. Muitos hoje se surpreendem se digo que nasci em casa, minha mãe sendo auxiliada por uma parteira. Aquela humilde casinha de madeira, com bananeiras no fundo do quintal, já não existe mais naquela que é hoje, vejam só, a rua Martinho Lutero. Entenderão minha surpresa (sim, somente agora eu também me conscientizo de que é este o nome da rua!) aqueles que me conhecem bem, sabem da minha trajetória, estudos e atividades profissionais. Enfim, foi aquela a residência que o Ricardo podia oferecer à Maria e começar uma nova família.

Esta é uma região, no norte do estado do Espírito Santo, com muitos descendentes de alemães, mais especificamente, pomeranos. Um povo de tradição religiosamente protestante. Haverá outras oportunidades para falar mais sobre isso. Ambos, Maria e Ricardo, eram de tradição luterana, embora, de denominações diferentes.

O período de vida lá naquela casinha, na Vila Valério, não representa nada em minhas lembranças. O que sei é aquilo contado pelos meus pais. Mas, sabe aquelas coisas que vão te contando e, depois, você já nem sabe ao certo se lembra dos fatos ou das histórias, ou..., quem sabe de tudo um pouco!?
Realmente eu não poderia lembrar de nada, pois saímos da vila quando eu ainda era um bebê. E, então, sim, na nova casinha, igualmente de madeira, às margens da rodovia ES-344, eu começo a ter lembranças de minha infância. Havia começado a saga de mudanças, casas, locais, pessoas, sempre mudando...

Esta é um fotografia do centro de Vila Valério de 1960. Portanto, 16 anos antes de eu nascer. Aquela casinha, onde nasci, ao que parece, sequer existia ainda.

sábado, 21 de abril de 2018

Retalhos

Minhas primeiras lembranças devem ser de quando eu tinha entre dois e três anos de vida. Uma casa de madeira, alta do chão, típica da época lá no norte do estado do Espírito Santo. Os colonos aproveitavam para utilizar aquele espaço debaixo da casa para guardar coisas. Também costumava ser um espaço para as crianças brincarem enquanto a mãe se ocupava com os afazeres domésticos.

Nesta época típica das descobertas e de muitas curiosidades, as crianças recebem as primeiras impressões da realidade para dentro da qual se descobrem. Lembranças que nos acompanharão por toda a vida. Cresci vendo a velha máquina de costura Philips sendo companheira de minha mãe. O trabalho de confecção das peças de roupas, tanto costuradas para nós, da família, quanto para atender encomendas de fora, sempre geravam retalhos, as sobras. Destes, minha mãe geralmente fazia tapetes e colchas. Quem nunca ouviu falar da colcha de retalhos!?

As lembranças de uma vida costumam se apresentar também assim, como retalhos que nos ajudam a montar um cenário maior. Quando deixo minhas lembrança resgatarem o passado, um destes retalhos me remete a uma cena que aparece bem clara em minhas memórias. Provavelmente seja a lembrança que mais longe me permite viajar ao meu próprio passado.

Lá estava eu, pequenino, brincando pelo quintal, nos arredores de casa. Minha mãe estava num velho tanque a lavar as roupas. Na época era tudo no braço. De repente, bem no meio de uma pequena moite de espada de são jorge, uma planta decorativa muito comum no Brasil, vi alguma coisa colorida que chamou a minha atenção. Para mim, mais um dos retalhos coloridos que minha mãe guardava para dar utilidade em momento oportuno. Sei ainda com mais clareza hoje, daquilo que me livrei naquele dia. Em vez de matar a minha curiosidade abaixando-me para pegar aquele retalho, perguntei antes à minha mãe o que aquele retalho colorido fazia ali.

Como todas as mães, também a minha não era de dar logo muita atenção às conversas de menino. No entanto, as boas mães sabem também que de criança a gente cuida. Especialmente numa época em que, devido à muita vegetação e presença de todo tipo de animais, o perigo pode estar sempre à espreita. Quando ela finalmente resolveu conferir o que era aquilo que despertara a minha atenção em meio à folhagem, constatou tratar-se, sim, de algo colorido e chamativo. Mas, aquelas tonalidades de preto, vermelho, branco e amarelo não vinham de um retalho de cetim, mas, o colorido de uma cobra coral.

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